quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Hey Johnny

Johnny agora tinha uma arma.Se detinha à ficar um bom tempo pensando no que fazer com a arma.Acontece que, um dia, Jeff perguntou "Johnny, pra que você tem essa arma?".Dominar aquela cidadezinha, primeiro pensou, mas talvez, estourasse os miolos do amigo assim que este ouvisse tal resposta e gargalhasse até causar nojo em John.Não, não valia a pena, uma bala se ia, mas aquilo continuaria muito vazio.Aquela novidade, "Johnny tem uma arma" ainda ia causar mais perguntas como esta, precisava pensar em alguma coisa.Mas, afinal, pra que tinha esperado tanto por aquela arma, perdido seu tempo procurando por ela, e agora, não conseguia responder?Sentiu enjôo.
No outro dia, quando pulava por todo aquele monte de ferro velho e enferrujado reunido, ouviu Anna chamando.Parou próximo ao Fusca, antes preto, agora com pequenas lascas com a antiga cor, e esperou.Ela se aproximou arfante, e disse "Johnny, me disseram que você tem uma arma.É verdade?".Sim, oras, era verdade."Pra que você vai usar?".Não era da conta dela, mas, talvez, essa resposta deixasse Johnny mais distante ainda daquelas pessoas sorridentes, as mesmas por quem sua mãe se derretia em elogios, para quem fazia jantares, convidava os pais, esperando, um dia, que seu filho tivesse a mesma atitude.Mal sabia que tudo o que fazia em relação aquelas pessoas só aumentava aquele desejo de ver a última bolha de ar saindo de suas narinas enfiadas naquele lago sujo e cheio de lodo, observando os girinos e alguns vermes entrando por sua boca e olhos.Por Deus, Johnny sonhava com isso constantemente.
Colecionar.Anna franziu a testa, esperava uma reação impulsiva, tipicamente "Johnny lunático", como continuar andando, pular o velha estrutura de um caminhão que estava ali faz tanto tempo e sumir pra beira do morro, de onde Johnny via a cidade cheia de luz, cheia de coisas interessantes pra fazer, cheia de pessoas bêbadas, que seriam suas amigas e lhe pagariam bebidas, talvez mais de uma rodada.E foi o que ele fez em seguida, mas com a impressão de que aquela arma estava fazendo com que o notassem, com que as pessoas, inclusive, se aproximassem dele.Chegou até a pensar na possibilidade de chegar no Malve's e atirar pro alto, sair de lá muito embriagado, sem gastar um centavo, mas no outro dia seria atração, como um leão raquítico e cheio de olheiras, atrás das grades, e isso em nada lhe agradava.
Mas que bela porcaria, afinal, de que lhe servia aquela arma?Aquilo consumiu Johnny, dia após dia, sem que este se desse conta, sem que o tempo contasse pra ele enquanto continuava sem resposta.
Amanheceu, um frio inacreditável.Talvez um dos mais fortes nos últimos quatro anos, e desde aquele dia, quando Johnny adormeceu no morro, com vista pra cidade tão querida, sem resposta alguma, já haviam se passado dois anos.Sem surpresas, tudo continuava igual ali, Jeff aparecia num intervalo de mais ou menos duas, três semanas, jogavam conversas sobre as bandas que nunca iriam aparecer ali, sobre os carrinhos novos e brilhantes do pessoal do "sorriso nas orelhas"...Bah, tudo muito chato, que droga de vidinha chata.Sem perceber, a vida de Johnny havia se tornado tão imperceptível, que ele chegou até a acreditar que, se um dia tivesse uma overdose no quarto, demorariam pra achar o corpo, e só encontrariam pelo cheiro, ou se alguém fosse ali entregar-lhe alguma correspondência.Ou melhor, nem isso, Johnny não recebia nada.
Esperou a noite chegar, suportavelmente fria, e subiu o morro, passando pelo monte de ferro, ao lado do lago imundo.Pensou então, em tantas coisas que tinham acontecido, em tudo que havia somado pra que, naquela hora, Johnny estivesse ali, disposto a fazer o que lhe tinha tomado tempo demais pensando.Mas tempo era o que lhe sobrava agora.
Então, olhou mais uma vez pra cidade, longe, em média 4 horas de viagem de carro.Como era possível olhá-la e não querer estar lá?Mas ele sabia, todos sabiam, e todos achavam mais que justo, até Deus, se é que estava lá, controlando suas marionetezinhas, ele mais que ninguém sabia, Johnny nasceu ali, sem barulho, viveu ali, na sombra, e dali é que não ia sair.
Um, dois, três, quatro, cinco.Seis disparos.Droga, estava escorrendo, era quente, sujava a roupa toda, e deixou Johnny tremendo, pela primeira vez.Reuniu tudo de força que restava, e jogou a arma, que talvez tivesse caído no rio, não tinha certeza, não ouvira barulho algum.Escuro.
Abriu os olhos e achou que aquela droga de luz o tivesse cegado.Amanhecera.Olhou pra cidade.Claro que aqueles seis disparos não iam chegar nem perto dali."Não se preocupe, querido, você não vai ser tão cretino ao ponto de matar alguém".Hey Johnny, hora de voltar pra casa, a urina já havia secado pela roupa, fria.Sem arma alguma.Johnny, seu verme.

3 comentários:

Liliane disse...

Eu vou casar com o Johny, mas não o teu Johny. Sei lá, me pareceu sujo e chato

Luciana disse...

Textinho sujo e chato.
Issaê Lika!

Camila Barbalho disse...

Eita, faroeste às avessas!

Quase vi a porta do saloon abrindo e Johnny batendo no balcão, antes de gritar:
- Me dá um leite.

=P

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